segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS DA AMAZÔNIA

                     Vânia Beatriz, amapaense da gema, resolveu abrir a gaveta secreta onde esconde de nós sua muito interessante produção intelectual. Suspeito para falar dela - é minha prima - quero afiançar-lhes que ela escreve bem, é sensível e sabe captar raros momentos da vida com suas Crônicas. Hoje, uma segunda-feira de céu azul em Macapá, ela estréia no Blog.
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Crônicas no Blog do Bonfim

Da Série:Macapá de Minha Infância 1



Um tipo inesquecível – Seu Júlio


       Vânia Beatriz                      


Com sua longa barba grisalha, suas roupas rotas, Seu Júlio era um velhinho que parecia um personagem saído do livro As Mais Belas Historias. Sua casa, quase na esquina da Rua Jovino Dinoá com a Av. Feliciano Coelho, em frente ao Cine Paroquial, em Macapá, era um misto de residência e oficina, onde ele fabricava suas vassouras de cipó-titica, peneiras e gamelas.

       Quando o via passar com sua acentuada corcunda, carregando sobre os ombros suas vassouras, que ele vendia de porta em porta, eu sentia um misto de dó e ternura, por aquela figura tão frágil, de ar tão sofrido.

       Mamãe parecia se enlevar pelo mesmo sentimento, além de comprar os seus produtos, uma vez por mês ela lhe presenteava com uma garrafa de vinho barato, sempre recomendando, que ele tomasse só uma pequena dose por dia, que lhe faria bem ao coração.  Foi também mamãe que nos ensinou a chamá-lo de Seu Júlio e não de Velho Babugem, como a molecada da rua o apelidava.

       Nos anos 80, quando já morava em Belém, conheci outro personagem que me fez lembrar do Seu Júlio. Era um homem que amolava alicates e tesouras. Quando fui na sua casa/oficina, localizada na Av. Conselheiro Furtado, ao lado da Igreja dos Capuchinhos, encontrei uma espécie de museu da pessoa: muitas tralhas, móveis velhos e, o que me chamou mais a atenção e ficou fortemente gravado na minha memória: as paredes eram forradas por folhas de jornais que traziam fotos de Rainhas das Rainhas de todos os tempos,  soberanas do  tradicional concurso de fantasias do carnaval paraense. 

       Dentre as fotos, uma que mostrava a rainha Flora e uma espécie de vice-soberana, chamada Beatriz. Ambas, posavam na escada do farol da Fortaleza de São José de Macapá.  Naquele exato momento, aquela foto me fez sentir saudades de casa, saudades da minha Macapá, e da infância, quando ir ao nosso mais importante patrimônio cultural, era um delicioso e aventureiro passeio, driblando os guardas, para atirar pedra nas mangueiras, ou colher goiabas  das árvores existentes no alto do forte.


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