OPOSIÇÃO, PARTIDOS E GOVERNOS
BONFIM SALGADO
No comércio em determinadas épocas, há mercadorias que costumam faltar. Naquele conhecido jogo entre a demanda e a oferta. Os preços oscilam e tendem a cair, caso a oferta seja demasiado alta e o consumo pequeno. Essa premissa básica pode ser aplicada à política em geral.
Maio fechará o quinto mês de 2011, fazendo com que sejam aguçadas as nossas expectativas em torno do trabalho, planos, projetos e diretrizes dos governos federal e estadual. A safra de novos governadores, é herdeira malgrado seu dos inúmeros problemas sócio-econômicos do país e dos Estados. Os ex-governadores, praticamente sem exceção, empurraram aos sucessores horroroso subnitrato de mazelas, corrupções e incompetências, sem citar a mais que temerária e irresponsável gestão do erário. No Amapá, não poderia ser diferente.
Pelo aspecto político, apesar do relativo domínio mantido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), carreado no inegável prestígio pessoal do ex-presidente Lula da Silva, as lideranças ditas de oposição tentaram se reagrupar no Congresso. Manobra prontamente detectada pelos falcões do governo Dilma que, num processo classificado hipocritamente de rotineiro, trataram de esvaziar pretensões e focos de descontentamento entre os políticos. Rodou-se a velha guitarra dos cargos de primeiro e segundo escalões, acenou-se com as benesses – disputadíssimas – do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica e, de repente, ampliou-se e consolidou-se a base aliada congressual do governo. Conta-se agora com folgadas maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. Mas, nem tudo são rosas e perfumes no caminho da presidente Dilma Rousseff. Os escândalos continuam a pipocar. Vide Palocci.
Cumprindo à risca a tradição que diz iniciar-se a próxima eleição assim que uma delas termina, veio de S. Paulo e de suas lideranças políticas o primeiro grande ensaio de reagrupamento da oposição. Vitorioso para o governo paulista, Geraldo Alckmin, manejando a máquina administrativa do maior e mais poderoso Estado da federação, costurou nas sombras – sem aparecer muito sob os holofotes da mídia – os acordos que desembocaram na criação do mais novo partido, PSD, sob o comando explícito do prefeito da capital, Gilberto Kassab. Constatada essa realidade, não sem surpresa assistimos à romaria de políticos e figurões carimbados batendo na porta do PSD, contritos noviços de sacristia, prometendo idéias avançadas e o estabelecimento de uma oposição independente, vigilante e responsável ao governo Dilma. Observe-se o notório esfacelamento do PSDB – que ainda continua - desde que se fecharam as urnas de 2010 e ter-se-á o quadro acabado de como esfriar um partido e torná-lo apenas simulacro dos seus próprios princípios. Por seu lado, Kassab arrebanhou expressivas lideranças políticas, empreendeu viagens Brasil a fora, porém não esquecendo de atapetar de boas intenções suas futuras relações com o governo Dilma. Afinal, avizinham-se as eleições municipais e ele, a cada lance para fortalecer o PSD, estará cimentando seu caminho rumo ao governo paulista em 2014. Essas são as cores das fichas e esses os principais jogadores.
No plano regional – que mais de perto nos interessa – temos os governadores tentando ampla, geral e irrestrita renegociação das dívidas estaduais para com a União. Aliás, semana passada, estavam S. Exas. num convescote em Belém (PA), entre eles o dirigente do Estado do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB). Na pauta, além de paparicos e afagos recíprocos, as necessidades de uma política mais estreita, planejada e cooperativa de desenvolvimento na Amazônia Legal. Nos últimos dias, nenhum jornal amapaense destacou e muito menos analisou a importância, a curto e médio prazos, de um assunto bilateral Amapá – Pará, sempre esquecido, levantado pelo governador Camilo: criar condições para um acordo de cooperação interestadual, notadamente visando as áreas da saúde e segurança pública. Hoje, o sistema de saúde do Amapá encontra-se às voltas com inúmeros problemas estruturais e técnicos, para dar conta do atendimento às populações oriundas das ilhas paraenses, sem que o Estado receba qualquer tipo de compensação por isso. Situação que deve mudar, anuncia-se.
Napoleão, no auge das conquistas européias, costumava afirmar que entre uma guerra e outra os generais e estrategistas devem dormir o necessário. No caso do Amapá, onde observamos seguramente uma década de políticas de terra arrasada, promovida na administração pública por aqueles que, por dever de ofício, teriam de ser os primeiros a zelar por ela, igualmente aguardamos que nossos atuais dirigentes “durmam apenas o necessário.”Há problemas exigindo prontas soluções. Há federações e centrais sindicais batendo lata nas praças, reivindicando reposições salariais acima da inflação. Além de haver opositores ao governo apostando no quanto pior, melhor. Quanto mais rápido os integrantes de primeiro escalão entenderem essas coisas, parando de sonhar com utopias – sintonizando melhor com as diretrizes do mandatário estadual – mais rápido poderemos, aí sim, ter à frente algo, quando menos seja, parecido com um Projeto de Estado.
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