terça-feira, 27 de dezembro de 2011

QUEM COLOCA ESSA CARAPUÇA?



Um ano para ser esquecido


Marco Antônio Villa
(O Estado de S.Paulo)
25/12/11)
O governo Dilma Rousseff é absolutamente previsível. Não passa um mês sem uma crise no ministério. Dilma obteve um triste feito: é a administração que mais colecionou denúncias de corrupção no seu primeiro ano de gestão. Passou semanas e semanas escondendo os "malfeitos" dos seus ministros. Perdeu um tempo precioso tentado a todo custo sustentar no governo os acusados de corrupção. Nunca tomou a iniciativa de apurar um escândalo - e foram tantos. Muito menos de demitir imediatamente um ministro corrupto. Pelo contrário, defendeu o quanto pôde os acusados e só demitiu quando não era mais possível mantê-los nos cargos.
A história - até o momento - não deve reservar à presidente Dilma um bom lugar. É um governo anódino, sem identidade própria, que sempre anuncia que vai, finalmente, iniciar, para logo esquecer a promessa. Não há registro de nenhuma realização administrativa de monta. Desde d. Pedro I, é possível afirmar, sem medo de errar, que formou um dos piores ministérios da história. O leitor teria coragem de discutir algum assunto de energia com o ministro Lobão?
É um governo sem agenda. Administra o varejo. Vê o futuro do Brasil, no máximo, até o mês seguinte. Não consegue planejar nada, mesmo tendo um Ministério do Planejamento e uma Secretaria de Assuntos Estratégicos. Inexiste uma política industrial. Ignora que o agronegócio dá demostrações evidentes de que o modelo montado nos últimos 20 anos precisa ser remodelado. Proclama que a crise internacional não atingirá o Brasil. Em suma: é um governo sem ideias, irresponsável e que não pensa. Ou melhor, tem um só pensamento: manter-se, a qualquer custo, indefinidamente no poder.
Até agora, o crescimento econômico, mesmo com taxas muito inferiores às nossas possibilidades, deu ao governo apoio popular. Contudo, esse ciclo está terminando. Basta ver os péssimos resultados do último trimestre. Na inexistência de um projeto para o País, a solução foi a adoção de medidas pontuais que só devem agravar, no futuro, os problemas econômicos. Em outras palavras: o governo (entenda-se, as presidências Lula-Dilma) não soube aproveitar os ventos favoráveis da economia internacional e realizar as reformas e os investimentos necessários para uma nova etapa de crescimento.
Se a economia não vai bem, a política vai ainda pior. Excetuando o esforço solitário de alguns deputados e senadores - não mais que uma dúzia -, o governo age como se o Congresso fosse uma extensão do Palácio do Planalto. Aprova o que quer. Desde projetos de pouca relevância, até questões importantes, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU). A maioria congressual age como no regime militar. A base governamental é uma versão moderna da Arena. Não é acidental que, hoje, a figura mais expressiva é o senador José Sarney, o mesmo que presidiu o partido do regime militar.
Nenhuma discussão relevante prospera no Parlamento. As grandes questões nacionais, a crise econômica internacional, o papel do Brasil no mundo. Nada. Silêncio absoluto no plenário e nas comissões. A desmoralização do Congresso chegou ao ponto de não podermos sequer confiar nas atas das suas reuniões. Daqui a meio século, um historiador, ao consultar a documentação sobre a sessão do último dia 6, lá não encontrará a altercação entre os senadores José Sarney e Demóstenes Torres. Tudo porque Sarney determinou, sem consultar nenhum dos seus pares, que a expressão "torpe" fosse retirada dos anais. Ou seja, alterou a ata como mudou o seu próprio nome, sem nenhum pudor. Desta forma, naquela Casa, até as atas são falsas.
Para demonstrar o alheamento do Congresso dos temas nacionais, basta recordar as recentes reportagens do Estadão sobre a paralisação das obras da transposição das águas do Rio São Francisco. O Nordeste tem 27 senadores e mais de uma centena de deputados federais. Nenhum deles, antes das reportagens, tinha denunciado o abandono e o desperdício de milhões de reais. Inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, que representa o Estado de Pernambuco. Guerra, presumo, deve estar preocupado com questões mais importantes. Quais?
Falando em oposição, vale destacar o PSDB. Governou o Brasil por oito anos vencendo por duas vezes a eleição presidencial no primeiro turno. Nas últimas três eleições chegou ao segundo turno. Hoje governa importantes Estados. Porém, o partido inexiste. Inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada. Um ou outro líder emite uma opinião crítica - mas não é secundado pelos companheiros. Bem, chamar de companheiros é um tremendo exagero. Mas, deixando de lado a pequena política, o que interessa é que o partido passou o ano inteiro sem ter uma oposição firme, clara, propositiva sobre os rumos do Brasil. E não pode ser dito que o governo Dilma tenha obtido tal êxito, que não deixou espaço para a ação oposicionista. Muito pelo contrário. A paralisia do PSDB é de tal ordem que o Conselho Político - que deveria pautar o partido no debate nacional - simplesmente sumiu. Ninguém sabe onde está. Fez uma reunião e ponto final. Morreu. Alguém reclamou? A grande realização da direção nacional foi organizar um seminário sobre economia num hotel cinco estrelas do Rio de Janeiro, algo bem popular, diga-se. E de um dia. Afinal, discutir as alternativas para o nosso país deve ser algo muito cansativo.
Para o Brasil, 2011 é um ano para ser esquecido. Foi marcado pela irrelevância no debate dos grandes temas, pela desmoralização das instituições republicanas e por uma absoluta incapacidade governamental para gerir o presente, pensar e construir o futuro do País. 
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Historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ASSUNTO PARA MEDITAÇÃO


15 de dezembro de 2011

                 DEM disfarça, mas ruma para o inferno 


                     Por Altamiro Borges


O DEM exibe hoje (15) o seu programa partidário em horário nobre na rádio e televisão. Nos dez minutos de rede nacional, a sigla procura esconder a sua grave crise e mudar a sua imagem tão desgastada. O programa, já disponível na internet, evita ataques frontais a Lula e Dilma e enfatiza as “propostas”. A plataforma mantém os dogmas neoliberais, mas tenta seduzir a chamada classe média.

Diferente do raivoso programa do PSDB, exibido no mês passado, o dos demos é mais light. O motivo do disfarce é que a postura agressiva do DEM gerou muitos prejuízos – com o racha e a fundação do PSD de Gilberto Kassab e a deserção de um governador, uma senadora e quase 20 deputados federais, além de prefeitos e vereadores. Agora, os demos se fingem de mais civilizados.

Cinismo e mentiras descaradas

O programa do DEM até fala do tema principal dos falsos moralistas, mais sujos do que pau de galinheiro. Ele procura, inclusive, apropriar-se da “marcha contra a corrupção” realizada em Brasília, no 7 de setembro. Mas não cita os nomes do ex-presidente Lula nem da presidenta Dilma. Não ataca, diretamente, o PT e as forças de esquerda. Tudo é dissimulado, disfarçado.

Quanto à plataforma, o DEM assume o legado de FHC – só para irritar o PSDB, que esconde a herança maldita do ex-presidente. Num trecho, dos mais cômicos, afirma que o governo demotucano deixou “a economia mais livre e mais ágil para gerar mais empregos”. Esconde que no triste reinado de FHC o desemprego bateu recorde e os direitos trabalhistas foram surrupiados.

Noutro trecho, o DEM elogia as privatizações – mas nada fala sobre a corrupção na venda das estatais, agora documentadas pelo livro “A privataria tucana”. Os demos também se travestem de mentores dos programas sociais. Baita hipocrisia! Por fim, a peça tenta seduzir a errática classe média, propondo a redução de impostos, um velho bordão das elites rentistas e bilionárias.

Josias registra a mudança

O próprio Josias de Souza, o colunista da Folha com bastante trânsito nos antros da direita nativa, ironizou o esforço do DEM para mudar sua imagem. “Na peça, o partido mais afetado pela ‘onda Lula’, que engolfou os antigovernistas nas urnas de 2010, tenta se reposicionar em cena... O parceiro do tucanato parece mais interessado em retirar o ódio do seu pudim”.

“Identificado como oposicionista raivoso, o DEM soa como se houvesse retirado das urnas um ensinamento elementar: a raiva, sozinha, não rende votos. A legenda dedica-se agora a exibir o que todos dizem faltar à oposição: uma plataforma. O DEM tenta virar a página, eis a impressão que salta da propaganda”.

“A ex-Arena fizera a sua primeira operação plástica ao pular da arca da ditadura para o transatlântico pluripartidário de Tancredo Neves. O ex-PFL passara por segunda cirurgia no meio da travessia entre a Era tucana e a fase Lula. Lipoaspirado, o DEM tenta agora saltar da maca com a cara remoçada”. Josias, porém, acha difícil que a nova imagem dê bons frutos nas eleições de 2012.

A decadência da sigla direitista

A situação do DEM realmente é complicada. Apesar dos disfarces, tudo indica que os demos rumam mesmo para o inferno – isto se o diabo deixar! Na semana passada, a legenda fez a sua convenção nacional. Um evento apagado, numa sala, sem o alarde do passado. Fingindo força, os demos lançaram o senador Demóstenes Torres para disputa presidencial de 2014. Puro jogo de cena.

Os demos também reelegeram Agripino Maia para o comando da sigla. O senador tem comido o pão que o diabo amassou. Além de estar enlameado com as denúncias de corrupção contra o seu suplente no Rio Grande do Norte, ele tenta estancar a sangria da legenda com a criação do PSD. “Àqueles que saíram, boa viagem! O DEM vai sobreviver em nome de suas idéias porque temos autoridade moral para combater a corrupção, porque não convivemos com a improbidade”, esbravejou na convenção.

Ninguém acredita – nem na probidade nem na sobrevivência da sigla. Nos últimos meses, o DEM perdeu 17 deputados federais, uma senadora, um governador e centenas de prefeitos e vereadores. Isto só confirma a trajetória decadente desta agremiação da direita nativa. Basta analisar o seu triste retrospecto:

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

RESUMOS DE TERÇA, 13/12/11


AINDA A SAÚDE
    Essa questão do descalabro em que se encontra o setor de saúde do Estado, já deveria ter sido objeto de análise e posteriores providências de uma Comissão de médicos. Afinal, Macapá não é o interior brabo do Nordeste, nem o fim do mundo, é uma capital de Estado. Onde as pessoas do povo não podem, nem devem ser deixadas entregues à própria sorte, quando necessitarem de assistência à saúde.
    O que ocorre, em todos os níveis, é uma omissão criminosa, injustificada, patética, pelos seus efeitos perversos e maléficos, sobre a população em geral. Ora, o governo pode intervir, rápido, para que ninguém seja obrigado a ver morrer seus parentes, por absoluta falta de insumos médico-hospitalares. De repente, não se arranjou R$ 1 milhão para financiar as folias do Carnaval? Por que essa novela - chata - repetindo que o único elevador do Hospital Alberto Lima não funciona, justamente porque a peça defeituosa, para ser trocada, exigiria gasto de R$ 10 mil?
    Aliás, no início desse governo, sugeri que nomeassem uma comissão de emergência médica. Objetivando formular medidas e ações, o mais rápido possível, para resolver os problemas gravíssimos da falta de cirurgias ortopédicas nos hospitais sob responsabilidade do Estado. Comissão que poderia ter poderes de mandar alguém a S. Paulo e Rio de Janeiro, para comprar direto nas fábricas (laboratórios) os medicamentos e/ou qualquer outro suprimento médico necessário. Não deram a mínima. Secretários e o governador de plasntão, continuam desfilando em seus carros oficiais, enquanto as pessoas, crianças, jovens e adultos morrem nos hospitasi por falta de assistência. Assim está o Amapá de Todos. Sim, de Todos os abandonados.

FRASE DO DIA
    "O Brasil é um país com vários dualismos.Um deles, é que os honestos e eficazes estão sempre fora do poder. Para nosso infortúnio."  (Twitter - @Arealva2011)

HISTÓRIA NEGRA
     Quase ninguém lembrou, mas hoje, fazem 43 anos daquele dia fatídico em que o Gal. Arthur da Costa e Silva, ditador-presidente militar, pronunciou aquele discurso terrível e, em seguida, assinou o AI-5, de triste memória.
     No então Território do Amapá, várias pessoas sofreram perseguições e até banimento, por suas posições contrárias aos governadores militares que passaram a vir para cá, tendo poder de vida e morte sobre todos. Conheço bem essa fase negra, pois também sofri na pele as humilhações das identificações datiloscópicas e a famosa fotografia de frente e de perfil, como se fosse um bandido qualquer. Eles nos colocavam na cadeia com o rótulo de "comunista", para tentar calar as vozes de protesto contra as arbitrariedades e as injustiças, que foram muitas no Amapá. Um dia, alguém - que não seja da laia desses farsantes e Tartufos que andam por aí, boquejando estrume de cavalo - haverá de contar a verdade daqueles tempos sombrios.

JULIETAS E NÃO-ME-TOQUES 
     O Superior Tribunal de Justiça (STJ), decidiu este início de semana que as críticas não ferem a "presunção de inocência" de entrevistados nos meios de comunicação. Será que vocês entenderam a coisa? Hoje, ninguém pode questionar súbito aumento de patrimônio, ou riqueza aparente de servidores, sem sofrer ameaças de processos. As "Julietas e Não-me-toques", avançam descaradamente no erário, fazem e desfazem suas falcatruas na calada da noite ou às vezes em pleno dia, e querem que fiquemos calados, engolindo tudo. E agora, com essa do STJ, como ficamos?  

MAIS EDUCAÇÃO
     Uma pesquisa recente, corroborada por dados do IBGE, indica que o Brasil aumentou o número de jovens de baixa renda nas universidades. Menos mal. De fato, isso gerará mais intensa mobilidade social e contribuirá para diminuir as gritantes desigualdades que ainda cultivamos nesse País, socialmente falando. Esse programa de formação técnica do governo federal (Pronatec), por exemplo, aprovado em boa hora pela presidente Dilma, pretende gerar cerca de 8 milhões de vagas para formação técnica e profissional, até 2014. Meta bastante ousada, mas pérfeitamente possível. Os recuros alocados ficam na ordem de R$ 24 bilhões.



 


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

OAB FECHADA EM COPAS

      A Ordem dos Advogados do Brasil - nacional - não devia fechar-se em copas, ante a constatação de que no Exame de Ordem, houve erro. Devia, isso sim, cxancelar imediatamente a ou (as) questões e convocar nova prova. Hoje, jornais do eixo Sul-Sudeste informaram que a OAB recusou anular os erros. Ora, a OAB não é tida e havida como uma das principais guardiãs do Direito e da Justiça? Confesso que não entendi essa.

ALTA SONEGAÇÃO

     Hoje, pela manhã, informaram no twitter que a sonegação de tributos diversos - devido pelas empresas, grandes, médias e pequenas à Prefeitura de Macapá - bateu na bagatela de R$ 48 milhões. Não é pouco. Recursos que dariam para fazer muita coisa, se bem administrados. Afinal, é fácil ver por aí gente a reclamar dos serviços da PMM, disso e daquilo, até do mato que deixam crescer à porta das residências. Mas pagar em dia os impostos, quase ninguém quer.
     O comércio da cidade não anda em crise tão braba. Circula dinheiro por aqui. Então, por que não colaboram e pagam seus impostos? Por que dar aos outros o direito, inclusive, de criticar isso, como estou fazendo agora?

MEUS POBRES LEITORES!

    Creio já ter confessado aqui que possuo uns  três ou quatro leitores. São fiéis e não me largam de jeito nenhum. Lêem e apreciam essas bobagens todas que escrevo por aí. O fato é que ainda não sei escrever direito. Penso até em voltar a matricular-me no prezinho! Mas, pelo sim, pelo não, podem dormir mais tranquilos. A partir de hoje, sem muitas pronessas, vou ver se faço esses resumos de notícias com pequenos comentários.  

SÃO ELES, OS BANQUEIROS E NÓS 

    Eis que, de repente, caiu-me sob os olhos uma coisa que já havoa lido em algum outro lugar. No Brasil, apenas 5 mil famílias detêm cerca de 40% do PIB do País. É isso mesmo, não há engano! Escrevi 40%  e elas representam pouquinho mais de 0,1% de toda a população. Viram como é que toca o samba por aqui? Hora dessas, vou comentar aqui sobre o PIB e revelar-lhes o tamanho dessa farra dos mais ricos, incluso os banqueiros nacionais. Gananciosos e que adoram as altas taxas de juros, esfolando vivos a clientela. É uma raça acostumada e cevada nas benesses do Tesouro da União. Detalhe: eles têm chiliques e desmaios diversos, toda vez que se fala em taxar no Brasil as grandes fortunas. Que República, hein? 

GOVERNOS MENTIROSOS E PARLAPATÕES 

    É só abrir os jornais. Ou acessar essas redes sociais, tipo twitter. De fato, os governos no Brasil inteiro, mentem à vontade sobre a criação de novos empregos, em estímulo disso e daquilo. Tudo balela. Entre 2010 e 2011. foram as pequenas e micro empresas as que mais geraram empregos no Brasil, algo perto de 6,1 milhões de novas vagas. Aliás, mesmo com o fantasma da crise mundial assustando as economias, inclusive a nossa, há muitos empreendedores tocando o barco em frente e investindo. Investindo menos que o previsto, mas investindo. Só falta o governo federal descer do pescoço do empresariado, aliviando a escorchante carga de impostos que todos são obrigados a pagar.

 :

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

REFLEXÕES DE SEGUNDA-FEIRA





                 

                      Elton Simões (*)
 
Chove com frequência em Vancouver. Quando isso acontece nos fins de semana, fico em casa. Leio muito nessas horas e, para mitigar a solidão, deixo a TV ligada. Em um desses meus momentos solitários, a TV reportava que, no Japão, apesar dos terremotos, das falhas nas usinas nucleares, e da falta de alimentos, não haviam ocorrido episódios de violência, saques ou desordem.
Uma senhora de meia idade foi entrevistada na fila onde as rações de alimentos estavam sendo distribuídas. Perguntada por que, diante da perspectiva de falta de alimento, ela esperava calmamente pela sua vez na fila, ela singelamente respondeu: “Porque se agisse de outra maneira, traria grande vergonha para mim e minha família.”. Achei interessante que ela tenha usado a palavra “vergonha”.
De fato, pesquisas conduzidas por John Braithwaite, da Australian National University (ANU), apontam para o fato de que, sociedades nas quais a vergonha é parte importante da cultura, sofrem menos com criminalidade, violência e corrupção.
A possibilidade de experimentar o sentimento de vergonha externamente, atraves da sanção ou condenação por membros da familia e da sociedade; e internamente, através das noções de certo e errado advindas do processo de socialização, contribui para a criação de uma sociedade mais justa e pacifica.
Ética, portanto, é ao mesmo tempo uma questão individual, cultural e coletiva. É preciso uma aldeia para educar uma criança.
Nesta ótica, crime, violência e corrupção são vistos como ofensas à comunidade, e não ao Estado. Deve-se fazer o que é certo, e não o que é meramente legal. As ações devem se orientar pelo campo da ética, e não do direito.
Trata-se de restaurar os danos e as relações entre pessoas, e não de punir ofensas ao Estado. Trata-se de restaurar relações, e não de fabricar presos.
Existe algo fundamentalmente errado quando, em uma sociedade, as noções de legalidade ou ilegalidade substituem as noções de certo e errado. Quando o sistema jurídico fica mais importante que a ética. Quando o compromisso com o bem-estar da comunidade se esconde atrás de nossa consciência adormecida. Nesta hora, perdemos a vergonha.
A vida não cabe em um conjunto de leis. Ela é maior que isso. Não cabe em livros ou códigos. Não cabe no direito. A vida é dinâmica, fluida, contraditória e cheia de dilemas. Em uma sociedade pacifica, organizada e evoluída, a ética precede a legalidade. As pessoas têm vergonha. Nestes tempos de apagão ético, talvez seja isso o que nos falte.

(*) Elton Simoes mora no Canada há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FVG); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (Univesity of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. A partir de hoje, será publicado aqui às segundas-feiras.Siga o Blog do Noblat no twitter

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

REFLEXÕES DE SEGUNDA-FEIRA


                         
 
Escrito por Frederick Douglass

(31 Outubro 2011)
 www.midiasemmascara.org

          "Sou pela imediata, incondicional e universal liberdade do homem negro em todos os estados da União. O que é liberdade? É o direito de escolher seu próprio emprego. Se liberdade significa alguma coisa, este é o seu significado. E quando um indivíduo, ou vários resolvem decidir quando um homem tem que trabalhar, aonde ele vai trabalhar, em que emprego ele vai trabalhar e porque ele vai trabalhar e com que propósito ele vai trabalhar, então este homem é praticamente reduzido à escravidão. Sem a liberdade de escolher seu trabalho sua liberdade é uma zombaria, uma mentira. Sem ela ele pode considerar-se ainda escravo, pois de fato, se não é um escravo de um patrão individual, ele será um escravo da sociedade."

          Comentário de Heitor de Paola: Estas palavras, e as que se seguirão, foram pronunciadas num discurso perante a Massachusetts Anti-Slavery Society em Boston, em abril de 1865, poucos dias antes do assassinato do presidente Lincoln, por Frederick Augustus Washington Bailey, mais tarde conhecido por Frederick Douglass, nascido nas docas de Maryland de mãe escrava desconhecida e de pai branco dono de escravos, provavelmente em algum dia de fevereiro de 1818 (ele nunca soube a data de seu nascimento).       Quando foi descoberto que a esposa de seu “dono” o ensinava a ler – uma ofensa ilegal de extrema gravidade – ela teve que parar sob pena de prisão. Douglass continuou aprendendo por si mesmo roubando uma cópia do Spelling Book da Webster, e estudando no The Columbian Orator, e aprendeu a escrever estudando as pranchas dos estaleiros Durgin and Bailey de Maryland. Douglass sempre defendeu que os negros americanos deveriam ter igualdade de oportunidade, nunca de resultados e que o trabalho duro e leis igualitárias eram tudo que os cidadãos negros precisavam para florescer.
            Pode-se perguntar: por que você deseja esta liberdade? Eu acredito que as mulheres, tanto quanto todos os homens têm o direito de votar e meu coração e minhas palavras estão com o movimento que amplia o sufrágio para as mulheres, mas esta questão está acima da qual nossos direitos estão baseados. Nenhuma classe de seres humanos pode se contentar com alguma privação de seus direitos. Nós os queremos de volta como um meio de educar nossa raça (humana). A humanidade é constituída de tal maneira que deriva a convicção de suas possibilidades pela estimativa dos outros. Se nada é esperado de uma pessoa, dificilmente ela conseguirá contradizer esta expectativa. Se não temos o direito de votar, vocês afirmam nossa incapacidade de formar um juízo inteligente a respeito de homens públicos e medidas públicas. Vocês declaram perante o mundo que somos incapazes de exercer o privilégio dos cidadãos, e assim, levam-nos a desvalorizar a nós mesmos, a julgar que não temos as mesmas possibilidades de outras pessoas.
           Eu nego completa e totalmente que nós somos originalmente, ou totalmente, ou praticamente, ou em qualquer circunstância inferiores a qualquer pessoa neste mundo. Esta acusação de inferioridade é uma velha trapaça, tornada real pela opressão em muitas ocasiões. Há apenas seis séculos que os anglo-saxões de olhos azuis eram considerados inferiores pelos arrogantes normandos que pisavam sobre vocês. Vocês estavam por baixo! E agora estão por cima. Estou feliz que vocês estejam por cima e ficaria contente se vocês nos ajudassem a subir também.
            Dizem que somos ignorantes, e eu admito que o somos. Mas se sabemos o suficiente para sermos enforcados, também sabemos o suficiente para votar. Se o negro sabe o suficiente para pagar impostos que mantém o governo, também sabe o suficiente para votar. Taxação e votação devem estar no mesmo pacote. Se os negros sabem o suficiente para portar um fuzil ao ombro, eles sabem o suficiente para votar.
           Mas não devemos perder tempos com isto. Isto depende, segundo meu juízo, ao senso de honra americano. E a honra de uma Nação é algo muito importante. Dizem as Escrituras: “O que ganhais se ganhardes o mundo todo e perderes tua alma?” Também podemos dizer: o que ganha uma Nação se ganha o mundo inteiro e perde sua honra?
          O que eu peço para os negros não é benevolência, nem piedade, nem simpatia, mas simplesmente justiça. O povo americano sempre ficou ansioso sobre o que fazer conosco. Todos se perguntaram, e aprenderam com os primeiros abolicionistas, “O que devemos fazer com o negro?” Eu só tenho uma resposta, para começar: não façam nada conosco! Seus feitos conosco já fizeram todos os prejuízos. Nada façam conosco! Se as maçãs não conseguem permanecer na macieira por sua própria força, se elas foram comidas desde dentro, se apodrecerem e caírem, deixem-nas cair! Estou longe de tentar amarrá-las e prendê-las à árvore, exceto pelas leis da natureza, e se elas não conseguirem ficar lá, deixem-nas cair! Se o negro não conseguir se levantar por suas próprias pernas, deixem-no cair também. 
          Tudo o que eu peço é que dêem a ele a chance de se levantar por suas próprias pernas!          Deixem-no por si mesmo! Se ele estiver caminhando para a escola, deixem-no ir, não o perturbem! Se ele estiver se encaminhando para uma mesa de jantar num hotel, deixem-no ir! Se ele se encaminhar para uma seção eleitoral, deixem-no ir, não o perturbem! Se ele se encaminhar para um posto de trabalho, deixem-no ir por si mesmo – qualquer interferência será uma injúria contra sua condição (de cidadão)! 
           Deixem-no cair se ele não for capaz de se levantar por si mesmo! Se o negro não puder viver pelas leis eternas de justiça, a falta não será sua, mas dele mesmo por não conseguir seguir a linha de justiça e se auto-governar.
Se vocês apenas soltarem suas mãos, e derem a ele uma chance, acho que ele conseguirá sobreviver. Ele trabalhará por si mesmo tanto como o homem branco.

Seleção dos excertos do discurso (pode ser encontrado na íntegra em http://teachingamericanhistory.org/library/index.asp?document=495) por Wynton Hall, visiting fellow da Hoover Institution na Universidade de Stanford e proprietário da Wynton Hall & Co., conhecida agência de ghostwriting e speechwriting, para a revista Townhall.




terça-feira, 25 de outubro de 2011


                     Esse Artigo de Olavo de Carvalho, reflete meu pensamento sobre essas idas e vindas políticas do PT e seus instrumentadores. Um tipo de gente que tomou o poder de assalto e, hoje, comete as mesmas práticas sócio-econômicas deletérias de governos anteriores. Indignados, não raro nos vemos pensando naquela frase: "Cada país tem os militantes do PT que merece."

                     
 
Escrito por Olavo de Carvalho 
25 Outubro 2011
Artigos - Cultura 

Quem os doutrinou para crer que qualquer desafio às suas convicções é crime e não pode ser tolerado nem por um minuto?

Saudosos tempos aqueles em que os jovens esquerdistas investiam galhardamente contra cavalarianos armados de sabres! Atualmente eles se reúnem às centenas para intimidar um homem só, minoria absoluta no Congresso, e se acham uns heroizinhos por isso. Ou, montados no apoio do Estado e de ONGs bilionárias, se articulam maquiavelicamente para cortar os meios de subsistência de um pai de família que, perseguido e acuado em sua terra, vaga de país em país com a mulher e quatro filhos, rejeitado e humilhado por toda parte, sem ter onde cair morto.
Em ambos os casos, os ativistas imaginam, sentem e acreditam, no interior do seu teatrinho mental, que são ousados combatentes pela liberdade lutando contra o centro mesmo do poder opressor, quando na realidade são eles próprios o braço do maior esquema de poder que já se viu no mundo, a aliança do Estado com os organismos internacionais, as grandes fortunas globalistas e a mídia em peso, todos juntos contra focos isolados de resistência, ingênuos e desamparados idealistas que, certos ou errados, nada ganham e tudo arriscam para permanecer fiéis a seus valores.
É a caricatura grotesca, a inversão total da coragem cívica, a perda radical do senso da equivalência de forças, das leis do combate honroso que um dia prevaleceram até em brigas de rua, entre malandros, e hoje desapareceram por completo nos corações daqueles que, para cúmulo de ironia, continuam se achando a parcela mais esclarecida da população. 
Quem os ensinou a ser assim?  Quem arrancou de suas almas o sentimento mais elementar de justiça, de honra, de amor ao próximo e até mesmo daquela tolerância que tanto exaltam da boca para fora, substituindo-o pelo ódio projetivo, insano, misto de terror, que só enxerga no rosto do oponente a imagem do demônio que os intimida por dentro e os leva a sentir-se ameaçados quando ameaçam, perseguidos quando perseguem, oprimidos quando oprimem, odiados quando odeiam?
Quem os ensinou a temer a tal ponto os argumentos vindos de uma voz solitária que, ao menor risco de ouvi-la, sentem a necessidade de sufocá-la com gritos e ameaças, e acreditam ser isso a apoteose da democracia, da liberdade e dos direitos humanos? Quem os doutrinou para crer que qualquer desafio às suas convicções é crime e não pode ser tolerado nem por um minuto? Quem os ensinou a imaginar a estrutura do poder de cabeça para baixo, com dois ou três cidadãos isolados e sem recursos no topo, e o conjunto das forças internacionais bilionárias em baixo, gemendo sob o jugo implacável de algum Jair Bolsonaro, Julio Severo ou Padre Lodi? 
Quem os ensinou a enxergar "crimes de ódio", imputáveis à consciência religiosa, em cada assassinato de homossexuais praticado por garotos de programa, com toda a evidência homossexuais eles próprios, e desprovidos, é claro, de qualquer vestígio de escrúpulos religiosos? Quem os ensinou a proclamar, diante desses assassinatos, que "a Igreja tem as mãos sujas de sangue", quando o próprio Movimento Gay da Bahia confessa ser a maior parte deles cometida por profissionais do sexo e até hoje não se exibiu nem um único caso de homicídio cometido contra homossexuais por motivo de crença religiosa ou sentimentos conservadores?
Quem os ensinou a desprezar a tal ponto a realidade e apegar-se a lendas insanas, carregadas de ódio injusto contra inocentes que nunca lhes fizeram mal algum, além de discordar de suas opiniões, e que não têm aliás o mais mínimo meio de defesa contra os ataques multitudinários e bem subsidiados que se movem contra eles?
Posso explorar essas perguntas em artigos vindouros, mas nenhuma resposta vai jamais atenuar a estranheza de um fenômeno deprimente, abjeto, moralmente inaceitável: a perda do sentimento de justiça e de honra por toda uma geração de brasileiros.
Eu mesmo, quando escrevi O imbecil juvenil em 1998 (v. http://www.olavodecarvalho. org/textos/juvenil.htm), não esperava que o mecanismo sociológico ali descrito se tornasse, por assim dizer, oficializado, consagrando como virtudes cívicas a covardia, o servilismo grupal e o assalto coletivo a bodes expiatórios desproporcionalmente mais fracos.
(Publicado no Diário do Comércio)