quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SOBRE IMPRENSA INDEPENDENTE

                     
  
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                       "O JORNALISMO INDEPENDENTE NÃO EXISTE"



Quarta, 31 Agosto 2011 
300811_serrano1Rebelión - [Luis Zarranz, El Argentino, Tradução de Diário Liberdade] O fundador do sítio Rebelión e autor de vários livros que revelam como desinformam os meios de comunicação é um dos pensadores mais lúcidos da comunicação. Nesta entrevista analisa as práticas hegemônicas, o papel das audiências e os desafios para sustentar modelos alternativos ao dos grupos dominantes.


Pascual Serrano é um desses jornalistas e intelectuais cuja opinião é valorizada e respeitada em diversos rincões do mundo, sobretudo por aqueles que primeiro param a orelha esquerda para escutar. Este mérito se deve a uma trajetória prolífica de livros, artigos e reflexões, cujo vértice é um olhar crítico, lúcido e lapidar sobre os grandes meios de comunicação.
Serrano nasceu em Valência, Estado espanhol, em 1964, e quase trinta anos mais tarde se licenciou em jornalismo, em Madri, onde vive, trabalha e pretende desmascarar o poder midiático. Dali também responde com entusiasmo as perguntas de Mirada al Sur que viajam em correio eletrônico e cruzam o oceano em velocidade cibernética.
Com a mesma presteza, Serrano, junto a um grupo de colegas, fundou em 1996 o sítio Rebelión, um dos máximos paradigmas da comunicação alternativa na América Latina. Durante 2006 e 2007 foi assessor editorial da TeleSUR, o canal que é filho dos processos de transformação de nosso continente e cuja pretensão é gerar um modelo de comunicação contraposto aos meios dominantes.
Antes e depois, e em meio de suas habituais colaborações para jornais espanhóis e latino-americanos como Le Monde Diplomatique, La Jiribilla e Diagonal, publicou, sucessivamente, duas edições de "Perlas. Patrañas, disparates y trapacerías en los medios de comunicación", "Medios violentos. Palabras e imágenes para el odio y la guerra", "Desinformación. Cómo los medios ocultan el mundo", "El periodismo es noticia. Tendencias sobre comunicación en el siglo XXI", "Traficantes de información. La historia oculta de los grupos de comunicación españoles", e, em junho deste ano, "¿El mejor de los mundos? Un paseo crítico por lo que llaman 'democracia'".
Neles, na linha de pensamento de Ignacio Ramonet, Eduardo Galeano e Noam Chomsky, Pascual Serrano descreve com precisão o perverso DNA da desinformação midiática.
E, agora que pulsa a tecla "enviar", também responde nossas perguntas.

- No último ano, na Argentina foi instalado um antagonismo entre "jornalismo militante" e "jornalismo independente". Em sua opinião, existe tal antítese? Por quê?

Pascual Serrano
– Pessoalmente não gosto de nenhum dos termos. Para começar, o jornalismo independente não existe, ou melhor dito, é indefinível. Independente de quê, de quem? Sempre dependerá de algo ou alguém. Dependerá dos superiores hierárquicos de quem escreve e que decidirão se se publica ou não, dependerá do marco econômico no qual se desenvolve o meio de comunicação e que será decisivo para que seja viável ou não o projeto, dependerá de todos os poderes econômicos e políticos que garantem o funcionamento do meio, dependerá do ponto de vista do jornalista que está escrevendo. O uso desses termos é malicioso porque o fazem os setores privados que se arrogam sem fundamento algum o caráter de "independente" frente a um jornalismo que atua condicionado por princípios e valores.

- Por que os meios de comunicação se mostram tão interessados em manchar desde onde "informar" e ao invés ponderam a "objetividade" e a "liberdade de expressão"?

Pascual Serrano
- Os grandes meios descobriram que, para influir, devem se apresentar como assépticos, neutros, virginais. Basta observar o nome neutro que dão aos seus cabeçalhos: El Mundo, El País, La Razón, La Nación, ABC. Deste modo, deslizam intencionalidades, valores e posicionamentos que disfarçam de informação pura. Inclusive mentem. Por último, o uso e abuso do termo "liberdade de expressão" é só um escudo pelo qual querem manter sua impunidade para manipular e seus privilégios para dominar o mercado informativo.

- Você descreveu os meios de comunicação como "traficantes de informação". Por que é possível essa definição?

Pascual Serrano
- Meu livro Traficantes de Informação recorre a esse título para apresentar as empresas de comunicações como meros tubarões das finanças. Em seu modus operandi se apreciam todas as atrocidades desse mundo: tráfico de influência, especulação, atropelos trabalhistas, acionistas cruzados com empresas que traficam armas, cumplicidade com golpes de Estado e ditaduras e inclusive com a delinquência organizada. Na realidade, nada diferente de qualquer outro grande setor da economia privada.

- Os movimentos sociais tendem a aumentar a invisibilidade que lhes impõem os grandes meios de comunicação, mas também alçam a voz quando seus temas se incorporam nas agendas midiáticas porque estas distorcem a informação. Como é possível escapar deste labirinto?

Pascual Serrano
- Não vou dizer que devem se desentender de buscar o modo de serem protagonistas da agenda informativa, mas sim, é bom que saibam que no panorama privado empresarial da informação nunca vão encontrar um trato plural e honesto. Esse setor se move em um marco econômico e financeiro determinado e a isso se deve. Tudo o que enfrenta o modelo econômico dominante será silenciado ou castigado por esses meios. Por isso devem ajudar e participar na elaboração de outro modelo informativo diferente.

- Ante o que você descreve sobre os meios de comunicação, que futuro prevê aos jornalistas profissionais?

Pascual Serrano
- A casuística do jornalista profissional é muito ampla. Minha opinião é que o profissional honesto que quer se adaptar aos novos tempos deve praticar um jornalismo de análise e interpretação. O formato urgente, frívolo e superficial de nossos meios de comunicação será arrasado pela internet e a testemunha cidadã graças às novas tecnologias.

- Aponta as responsabilidades dos meios de comunicação, mas estes querem se defender na eleição das "pessoas". Que responsabilidade atribui às audiências?

Pascual Serrano
- Defender-se nas audiências é muito habitual. Creio que é discutível que as audiências exijam esta mediocridade nos meios de comunicação. Podemos observar que o programa que conseguiu mais audiência nas televisões espanholas na semana passada foi a previsão do tempo. Se toda a programação televisiva de dezena de canais, o mais aceito pela audiência foi a programação do tempo, é evidente que estão dizendo que os conteúdos são uma merda.

- Na Argentina se discute se a definição de "meios alternativos" é pertinente, dado que pareceria reduzi-los, à perpetuidade, a ser irmãos menores do sistema de meios de comunicação. Parece-lhe válido este tipo de debate? Já se colocou esta questão?

Pascual Serrano
- Sim, claro que já me coloquei. Parece-me apropriado o termo "alternativo" mas com vocação para deixar de sê-lo. "Alternativo" quer dizer que promove algo diferente do dominante, é evidente que é o que todos pretendemos. Agora, ancorarmos e nos parabenizarmos nessa "alternatividade" pode supor nos condenar à marginalidade. A verdadeira vocação do alternativo, na política, na sociologia, e também nos meios de comunicação, deve ser conseguir a hegemonia


Publicação original: Diário Liberdade – Madrid – (31/08/11)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

RESUMOS DE TERÇA-FEIRA, 30/08/11


                         
                       AGENDA  ABERTA

                          Bonfim Salgado


Vai sair dinheiro, tudo passa a modificar-se nesses movimentos tipo MST e Via Campesina. Ora, o ministro da Agricultura, repetindo o gesto de Lula, há tempos, colocou na cabeça o boné da Via Campesina. Foi aplaudido pela patuléia do campo. Em seguida, na quinta-feira desta semana, o governo anunciou a liberação de R$ 400 milhões, visando apressar a reforma agrária. Vai apressar, sim, a fortuna de Stédile e outros espertalhões dessa área.
Novos juízes foram ameaçados, tendo aquela lista de 100, aumentado para 134, segundo informou o Conselho Nacional de Justiça. É a tentativa desesperada do tráfico de drogas e da bandidagem, inclusive os pilantras do contrabando nas fronteiras, que os juízes estão desbaratando e metendo na cadeia. Há casos de tentativas de intimidação de juízes aqui no Amapá.
Banqueiros mais do que ladrões, também podem ser encontrados nos EUA. Lá, o Federal Reserve (Banco Central deles), avaliou em nada menos que US$ 16 trilhões, os valores que os bancos têm surrupiado dos clientes e das instituições do governo. São taxas absurdas, cobranças duplicadas, falta de critérios nos repasses de lucros dos fundos financeiros. Uma farra.
A guitarra dos prazos eleitorais irá parar de tocar exatamente no dia 6 de outubro. Até lá, todos os partidos – velhos e novos – que desejarem concorrer nas eleições 2012, devem estar devidamente registrados. A novidade, fica por conta do Partido Pátria Livre (PPL), que protocolou pedido de legalização na quarta (24). Dizem eles, sua tendência é de centro-esquerda. Eufemismo para “muro todo o tempo.”
O entra e sai no gabinete de trabalho do senador Gilvam Borges (PMDB/AP), continuou firme, até sexta  passada. Ele lidera a oposição política no Estado. Foram cinco deputados estaduais, um federal, o porta-voz de um ex-governador, vereadores do interior e lideranças de Mazagão, Laranjal do Jari, Amapá e Bailique. Os nomes, não são divulgados por questões de discrição e ética.

Pelo menos no turismo, nós da Amazônia ainda não passamos de aprendizes de feiticeiros. Estudos recentes, patrocinados por empresas norte-americanas e alemães, indicam que os nossos decantados hotéis de selva são pobres em atrações, não têm qualificação e pecam no item segurança. Não fazem investimentos em equipamentos  modernos, além de manterem – em alguns casos – quadro mínimo de pessoal. Fique a lição.
Antonio Cardozo, procurador federal, tem  razão. De fato, é caótica a situação das Casas de Apoio à Saúde dos Índios no Estado. Situação que vem se agravando há bastante tempo, sem que o poder executivo cumpra a sua parte no negócio. O Ministério Público Federal não tem descansado na cobrança de providências e de um programa mínimo de assistência aos índios, sem que se fique esperando apenas a ajuda do governo federal.
Senador Pedro Simon (PMDB/RS), anda meio repetitivo. A cada semana, igual papagaio, afirma ser preciso aumentar a fiscalização sobre as ações do governo Dilma. Ele acha que poderiam ser criados novos tipos de controle das finanças públicas, através do fortalecimento de órgãos tipo OAB e CNBB. Todos concordamos, porém, em que ano, época ou século o nobre senador acha que isso será feito com eficiência?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

COLUNA DE TERÇA, 22/08 - JORNAL DO DIA

               
                          AGENDA ABERTA

                            Bonfim Salgado                                       

Triste e melancólico fim da ditadura Kadafi na Líbia. Lá se foram  mais de 40 anos na história daquele povo. Um país sentado num oceano de petróleo, tratando as pessoas como se estivesse ainda na idade da Pedra Lascada. Sem contar o banho de sangue, numa revolução que tem contaminado todo o Oriente Médio. Bola da vez: Assad, da Síria.
Construir pontes de entendimento, o mais cordial possível, com a mídia. Isso deveria ser uma das metas do governo do Estado. Porque todos ganham. Sim, a mídia que está aí todos os dias, que paga impostos, água, luz e telefone. Além de precisar honrar sua folha de pagamentos funcionais. Todavia, essa gente insensata prefere os confrontos inúteis das “notas de repúdio.”
Será no setor elétrico do país, segundo se informa em Brasília, um dos próximos escândalos a pipocar no governo Dilma. Pior, base aliada no Congresso já sabe disso e começou discreta “operação abafa.” Querem ver se o povo esquece, primeiro, os 2,2 mil contratos do Dnit que, entre 2008/2010, receberam nada menos que 3 mil aditivos. Chumbo grosso.
Chazinho básico de sumiço, de fato, tomou o preclaro ex-senador Papaléo Paes (PSDB/AP). Ele não quis nem conversa de assumir lugar  na máquina estadual. Indicou um preposto, Sebastião Cristóvão, seu fiel escudeiro. Mas, comendo o mingau pelas beiradas, Papaléo não fica nem um pouco zangado, se a mídia daqui continuar falando que ele é candidato à PMM, em 2012.
Cartas muito bem marcadas, essa questão da divisão do Pará em  três, criando-se mais dois novos Estados, Tapajós e Carajás. Tanto que, semana passada, podia-se ler nos jornais de Santarém  (futura capital do Tapajós) que passando o Estado, o deputado Lira Maia será o governador e a prefeita Maria do Carmo, senadora. Falar nisso, fizeram passeata de 3 mil pessoas em Belém, contra a “separação”. Fiasco, pois Belém possui quase 3 milhões de habitantes.


Tribunal Regional Eleitoral, para não ser apanhado dormindo de touca, precisa abrir o olho da fiscalização. Deparei com um veículo portando adesivo – ostensivo demais – de um futuro candidato à prefeitura de Macapá. O que me parece um desafio às punições da lei que todos sabem que existem. Aliás, a campanha das eleições 2012, conforme já comentei aqui, está nas ruas.
Pela enésima vigésima vez vou  tocar nesse desagradável assunto. A saúde do Estado, se não exalou  o último suspiro, encontra-se perigando na UTI. Por que não fazem  logo um mutirão médico? Por que não chamam  para coordenar ações de emergência, gente que conhece bem o setor, tipo os médicos Dalto Martins, Cláudio Leão, Alejandro, Joel Brito e Osvaldo Vicente? Quanto mais demorar uma atitude enérgica do governo, pior.
Essa brincadeira no turismo não vai terminar agora. Não bastasse a Operação Voucher, fuça daqui, fuça dali, vazou que o ministro Rossi, de leve, havia autorizado repasses no valor de R$ 1 milhão à empresas fantasmas. Rabo de foguete que seus auxiliares diretos, também  arrolados no mingau, disseram que “não vão segurar”, e que “Não é responsabilidade deles.” De quem é, então? Do Zé das couves?





segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CORRUPÇÃO, PALAVRA DA MODA



              
       Radiografia da corrupção

             22 de agosto de 2011 
             (O Estado de S. Paulo)

                                Carlos Alberto Di Franco (*)

 
Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra na onda de corrupção reiteradamente denunciada pela imprensa, manifestam profundo desalento. "Não vai acontecer nada. Os bandidos não estão na cadeia, mas no comando do Brasil." O comentário foi-me enviado por um jovem universitário. É tremendo, pois reflete o sentimento de muita gente.
O governo de Dilma Rousseff, sustentado por uma coligação pragmática e aética que foi concebida por seu antecessor, é, rigorosamente, refém do crime organizado. O mensalão do PT, que dificilmente será julgado em tempo hábil pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi o primeiro lance. Representou o pulo do gato, o caminho das pedras de um projeto de poder autoritário, corrupto e corruptor.
A presidente da República, fustigada por escândalos no seu governo que brotam como cogumelos, tem sido rápida na tomada de providências. Ao contrário do antecessor, Dilma não é, aparentemente, leniente com a corrupção. O Ministério dos Transportes, por exemplo, foi palco de uma enxurrada de demissões. Mas uma coisa é o feudo do PR. Outra, bem diferente, são as capitanias hereditárias do PMDB. Aí, sem dúvida, o discurso de Dilma é diferente. Em vez de apoiar ação saneadora da Polícia Federal (PF), Dilma classificou como "acinte" a sua conduta em operação por suspeita de desvios no Ministério do Turismo. A presidente ficou furiosa ao ver a foto de um dos detidos chegando algemado a Brasília. Irritou-se também por, supostamente, não ter sido informada previamente da operação policial.
Independentemente de excessos pontuais de alguns agentes da PF, que devem ser punidos, o que os brasileiros esperavam da sua presidente era o apoio ao essencial, e não o escândalo com o acidental. Mas não foi o que ocorreu, sempre em nome da governabilidade. E é exatamente isso que é preciso romper. A política é a arte da negociação, mas não pode ser a ferramenta da bandidagem.
O que você, amigo leitor, pode fazer para contribuir para a urgente e necessária ruptura do sistema de privatização do dinheiro público que se enraizou nas entranhas da República?
Em primeiro lugar, pressionar as autoridades. O STF, por exemplo, deve sentir o clamor da sociedade. Julgar o mensalão não é uma questão de prazos processuais. É um dever indeclinável. A Suprema Corte pode dar o primeiro passo para a grande virada. Se os réus do mensalão, responsáveis "pela instalação de uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro", pagarem por seus crimes, sem privilégios e imunidades, o País mudará de patamar.
Não podemos mais tolerar que o Brasil seja um país que discrimina os seus cidadãos. Pobre vai para a cadeia. Poderoso não só não é punido, como invoca presunção de inocência, submerge estrategicamente, cai no esquecimento e volta para roubar mais. Registro memorável discurso do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, quando assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral: "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito".
De lá para cá, infelizmente, a coisa só piorou. A ausência de punição é a mola da criminalidade. Mas não atiremos a esmo. Não publiquemos no domingo para, na segunda-feira, mudar de pauta. Vamos concentrar. Focar no mensalão. E você, caro leitor, escreva aos ministros do STF, pressione, proteste, saia às ruas numa magnífica balada da cidadania.
Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. É preciso morder e não soltar. Os meios de comunicação existem para incomodar. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial que venho defendendo há anos. Vamos inaugurar o Placar da Corrupção. Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro claro e didático, talvez um bom infográfico, dos principais escândalos. O que aconteceu com os protagonistas da delinquência? Como vivem os réus do mensalão? Que lugares frequentam? Que patrimônio ostentam? É fundamental um mapeamento constante. Caso contrário, estoura o escândalo, o ministro cai, perde poder político, mas vai para casa com a dinheirama. Depois, de mansinho, volta ao partido e retorna às benesses do poder, apoiado pela força da grana e do marketing. É preciso acabar com isso. A imprensa precisa ficar no calcanhar dos criminosos.
Uma democracia constrói-se na adversidade. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada, assuma o seu papel no combate à corrupção. As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, só serão acordadas se a classe média - e a formidável classe emergente -, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder.
Chegou a hora de a sociedade civil mostrar sua cara e sua força. É preciso, finalmente, cobrar a reforma política. Todos sabem disso. Há décadas. O atual modelo é a principal causa da corrupção. Quando falta transparência, sobram sombras. O Brasil pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos.
(*) Carlos Alberto Di Franco
DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO
E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BRM

sábado, 20 de agosto de 2011

AS CRIANÇAS E OS COMPUTADORES


                  
EU VI O BRASIL DE AMANHÃ

                            Delúbio Soares (*)

No interior de Goiás, diante de meus olhos e com grande emoção, assisti o encontro de quarenta e quatro crianças com o futuro. Faz poucos dias, foi em Buriti Alegre, onde estudantes da rede municipal de ensino, do ensino fundamental, receberam computadores novos (netbook) para serem utilizados em seus estudos.

Na Escola Municipal Juvercina Teixeira de Mendonça, colégio agrícola situado na zona rural de minha amada terra natal, vi os filhos de pais humildes, crianças pobres, mas cheias de alegria e de inquietações, sedentas de saber e com toda vida pela frente, receberem máquinas de última geração não como quem recebe um brinquedo ou um presente. Existia nas faces de cada um deles, nas expressões admiradas dos pais (majoritariamente analfabetos ou semi-alfabetizados) e no orgulho dos professores, a certeza de que nada será como antes. Que estranho e poderoso simbolismo aquele, o do futuro representado na imagem impressionante do pai lavrador de mãos calosas ao lado do filho que segurava com naturalidade o seu computador! Do cabo da enxada que sulcou a terra e alimentou a família ao teclado que vai abrir mais horizontes e alargará os caminhos do futuro para uma geração que não será intimidada pela pobreza nem renegada por um país que está assumindo seus filhos com responsabilidade e justiça social. Melhor imagem do Brasil de hoje, impossível.

Aquele momento mágico, que jamais sairá da memória, do coração e das retinas dos que tiveram a sorte de presenciá-lo se deveu a um homem austero, trabalhador e visionário. O prefeito João Alfredo (PT), meu companheiro de tantas lutas e amigo fiel, com recursos da própria prefeitura de Buriti Alegre tem investido na educação como poucos administradores públicos o fizeram em todo o Brasil em qualquer tempo. Não economizou recursos e nem criatividade. O governo petista de minha terra construiu várias novas unidades educacionais com dezenas de salas de aulas, melhorou substancialmente a situação do magistério local, a qualidade do material didático e da merenda escolar, além do transporte dos estudantes na zona rural de Buriti Alegre. Estamos fazendo a lição de casa na Educação. Agora, com recursos próprios, o computador é levado aos distritos mais distantes de um Município que tem crescido de forma impressionante em todos os setores.

Desde o início do governo do presidente Lula existe um programa de imenso alcance social e educativo, o UCA (“Um Computador por Aluno”). Ele adquire uma importância imensa a cada dia, pois é a ponte mais segura e viável na ligação entre nossos jovens e o amanhã. O lápis e a borracha foram substituídos pelas teclas, e a tela dos computadores faz com grande vantagem o papel antes destinado tanto ao quadro negro quanto aos livros dispostos cuidadosamente nas estantes de nossas bibliotecas públicas Brasil afora. Nessas máquinas fabulosas e a cada dia mais sofisticadas e, paradoxalmente, mais simples e baratas, está o universo do conhecimento a disposição dos que querem explorá-lo, dominá-lo, utilizá-lo. E o Estado brasileiro tem a obrigação de prover seu sistema público de ensino com o que de mais moderno e eficiente existir na tecnologia da informação, dotando tanto os professores quanto os estudantes das condições para contar com tão indispensável auxílio.

Se já alimentamos as legiões de irmãos que estavam aterrados pela miséria e submetidos pela fome, ao retirarmos de condições desumanas mais de 40 milhões de brasileiros, incluindo-os na nova e poderosa classe média que está girando a economia nacional e fortalecendo ainda mais nosso país, agora podemos e devemos investir em mais um programa de altíssimo alcance: o UCA.

Mesmo que os computadores de Buriti Alegre, por iniciativa de um prefeito trabalhador e competente, não façam parte de tal projeto, eles estão dentro do espírito que norteou o Ministério da Educação no governo Lula e, agora, no governo Dilma, a priorizar a informatização das escolas públicas em todo o nosso imenso território nacional, com banda larga de altíssima velocidade e computadores de última geração. Cuidemos dos problemas do presente, mas lancemos as sementes de um futuro extraordinário que está reservado ao nosso país.

Gostaria de repartir com todos a essência daquele momento, o sentimento que tomou-me por completo, a emoção que certamente dispensa palavras. Fiz uma viagem à infância, retornei aos anos já distantes em que, de pés descalços no solo generoso e fértil do meu Goiás, com meus irmãos andando léguas a pé até a escolinha distante da roça, carregando cadernos e livros reaproveitados, lápis apontados com esmero na ponta da gilete, a borracha pequena de tanto uso, a única régua... Depois a universidade, o magistério, a militância sindical, a fundação do PT, as lutas, minha vida política, tudo. E olhei aquelas crianças que seguravam seus computadores. Estavam felizes, mas não estavam deslumbradas. Incrivelmente, pareciam saber que não era um presente, mas o reconhecimento de um direito de cada uma delas. E num momento impressionante, num átimo de segundo, pude ter a certeza absoluta de que recebiam não como o fariam com um velocípede, uma bicicleta ou o pedido atendido por Papai Noel.

Nossos olhares se cruzavam e pude testemunhar, apesar de minha emoção, que aqueles pequenos e determinados filhos do povo, aquele gente miúda e extraordinária do Brasil profundo, segurava seus computadores com as duas mãos, com ar sereno e compenetrado, como quem segura o futuro melhor que os espera logo ali.  Confesso, seguro e feliz, que todo e qualquer sofrimento é menor, infinitamente menor, que a suprema alegria de ter participado daquele momento. Eu vi o Brasil de amanhã.

(*) Delúbio Soares é professor

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ASSÉDIO MORAL NO AMAPÁ


            Este Artigo do senador Gilvam Borges, pelo seu conteúdo, merece ser meditado. A prática do assédio moral contra servidores de várias secretarias estaduais, é mais comum do que se pensa. Obrigando dezenas de pessoas, humilhadas por seus superiores imediatos e até ameaçadas, a pedir transferência para outros órgãos da administração. Realidade que não pode ser justificada, nem aceita por aqueles que, através do seu trabalho honesto, querem o bem do povo e o progresso desta terra. (BS)

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                  HIPOCRISIA  INACEITÁVEL
                          Gilvam Borges (*)

           A experiência diz que chefes ruins prejudicam o ambiente de trabalho e os negócios das empresas. Por isso, durante o processo de seleção de quadros, é comum o eventual candidato confrontar-se com um monte de questionários e passar, naquele mesmo dia, pelas inevitáveis entrevistas com os psicólogos. Trabalho, qualquer seja ele, exige serenidade das pessoas. Porque nele e por ele elas se realizam e sempre buscam a felicidade.
          Contudo, a vida de um trabalhador pode ser cheia de surpresas, agradáveis umas, desagradáveis outras. Entre as últimas, ou seja, as desagradáveis, a pior delas tornou-se moda no serviço público: o assédio moral. Traduzido num esquema perverso e traiçoeiro de perseguições diversas, partindo dos chefes e responsáveis, diretamente aos subordinados, sempre mais fracos e dependentes. Assédio moral, esse é o fantasma que foi cevado nas empresas modernas, nos gabinetes dos poderosos e ganhou as salas do serviço público no mundo inteiro.
         No Estado do Amapá, a nefasta e hipócrita prática do assédio moral no trabalho, vem fazendo as suas vítimas. Basta prestar atenção nas páginas dos jornais e aos programas matinais no rádio. Onde dezenas de pessoas – a maioria temerosas e escondendo-se atrás de pseudônimos – denunciam o assédio moral que vêm sofrendo na carne, porque não concordam com ordens absurdas e com o clima de “terror” implantado nas repartições do governo do Estado. Há inúmeros pedidos de transferência de servidores – pelo assédio moral que sofrem todos os dias  – nas secretarias da Educação e da Saúde.
        Ora, as propostas de um governo, quando sério e disposto, de fato e de direito, a mudar a infraestrutura  administrativa do Estado, valorizando seus servidores e dando-lhes oportunidades de trabalhar em paz e realizar as suas vidas, não podem, nem devem ser manchadas por abjetas práticas de assédio moral. Os nomeados, isto é, aqueles que foram alçados aos cargos de primeiro escalão ou de chefias, nunca devem esquecer que, no poder, sempre se conta um dia a menos, não um dia a mais.
           Todos eles, os perseguidores dos mais humildes, aqueles que se prevalecem dos seus cargos para despejar sobre as pessoas a sua frustração moral e sua incompetência,  saem do poder. Perdem seu espaço, tornam-se comuns e, não raro, vivem depois a esconder-se justamente envergonhados de olhar nos olhos daqueles a quem perseguiram sem motivo. Tomara que o assédio moral hoje sofrido pelos servi dores amapaenses, não se torne a marca registrada desse grupo que está no poder e que pensa sermos todos apenas cavalgaduras. Coitados, nem sabem o quanto estão enganados!
(*)  Gilvam Borges – é senador da República e líder da oposição no Amapá.