segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS DA AMAZÔNIA

                     Vânia Beatriz, amapaense da gema, resolveu abrir a gaveta secreta onde esconde de nós sua muito interessante produção intelectual. Suspeito para falar dela - é minha prima - quero afiançar-lhes que ela escreve bem, é sensível e sabe captar raros momentos da vida com suas Crônicas. Hoje, uma segunda-feira de céu azul em Macapá, ela estréia no Blog.
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Crônicas no Blog do Bonfim

Da Série:Macapá de Minha Infância 1



Um tipo inesquecível – Seu Júlio


       Vânia Beatriz                      


Com sua longa barba grisalha, suas roupas rotas, Seu Júlio era um velhinho que parecia um personagem saído do livro As Mais Belas Historias. Sua casa, quase na esquina da Rua Jovino Dinoá com a Av. Feliciano Coelho, em frente ao Cine Paroquial, em Macapá, era um misto de residência e oficina, onde ele fabricava suas vassouras de cipó-titica, peneiras e gamelas.

       Quando o via passar com sua acentuada corcunda, carregando sobre os ombros suas vassouras, que ele vendia de porta em porta, eu sentia um misto de dó e ternura, por aquela figura tão frágil, de ar tão sofrido.

       Mamãe parecia se enlevar pelo mesmo sentimento, além de comprar os seus produtos, uma vez por mês ela lhe presenteava com uma garrafa de vinho barato, sempre recomendando, que ele tomasse só uma pequena dose por dia, que lhe faria bem ao coração.  Foi também mamãe que nos ensinou a chamá-lo de Seu Júlio e não de Velho Babugem, como a molecada da rua o apelidava.

       Nos anos 80, quando já morava em Belém, conheci outro personagem que me fez lembrar do Seu Júlio. Era um homem que amolava alicates e tesouras. Quando fui na sua casa/oficina, localizada na Av. Conselheiro Furtado, ao lado da Igreja dos Capuchinhos, encontrei uma espécie de museu da pessoa: muitas tralhas, móveis velhos e, o que me chamou mais a atenção e ficou fortemente gravado na minha memória: as paredes eram forradas por folhas de jornais que traziam fotos de Rainhas das Rainhas de todos os tempos,  soberanas do  tradicional concurso de fantasias do carnaval paraense. 

       Dentre as fotos, uma que mostrava a rainha Flora e uma espécie de vice-soberana, chamada Beatriz. Ambas, posavam na escada do farol da Fortaleza de São José de Macapá.  Naquele exato momento, aquela foto me fez sentir saudades de casa, saudades da minha Macapá, e da infância, quando ir ao nosso mais importante patrimônio cultural, era um delicioso e aventureiro passeio, driblando os guardas, para atirar pedra nas mangueiras, ou colher goiabas  das árvores existentes no alto do forte.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A SITUAÇÃO DA CEA

                                      A SITUAÇÃO DA CEA
   
                                        Jean Alex Nunes (*)

                                      

Qual a melhor solução para a CEA?

É chegada a hora da tomada de uma posição definitiva para os rumos da CEA. Prazos mais do expiraram e em última deliberação o Ministério de Minas e Energia criou um grupo de trabalho para que num período de 90 dias encontre uma saída definitiva para nossa combalida empresa energética. Mas afinal, qual a melhor a saída para CEA? Continuar gerida pelo GEA, federalizar ou privatizar? Antes de responder tenho alguns questionamentos:

1) A CEA é viável economicamente?

Com a palavra nosso atual Diretor-Presidente José Ramalho. Minha opnião é que sim. Diminuindo as perdas (furtos, gatos) que hoje beiram os 40% da energia adquirida da Eletronorte, aumento da tarifa, corte de gastos, diminuição da inadimplência, enfim, choque de gestão.

2) Qual tamanho da divida da CEA?

A dívida hoje gira em torno de 1,5 bi. Desse total R$ 800 milhões é com a Eletronorte (300 principal + 500 juros). Deve também ICMS ao GEA ( R$ 300 mi) e mais impostos e fornecedores.

Nesse caso o correto a fazer é uma auditoria da dívida e um encontro de contas. Pois a Eletronorte também deve ICMS ao GEA ( cerca de R$ 200 mi) e os órgãos públicos do Amapá também devem muito à CEA. No final teríamos uma diminuição sensível da dívida total. Estimo que o total possa cair pra algo em torno de R$ 800 mi após esses encontros de contas. Ainda assim, uma cifra elevada se considerarmos que o investimento total do Governo do estado foi pouco mais de R$ 200 mi no último ano.

3) Como pagar a dívida remanescente?

Na hipótese do GEA continuar com o controle da CEA a solução seria assumir empréstimos junto ao BNDES, por exemplo, e concomitante a isso transferir parte das ações da CEA para a Eletrobrás.

4) É vantajoso para os amapaenses o GEA continuar com o controle acionário da empresa?

Essa é a decisão estratégica a ser tomada pelo gestor do Executivo Estadual o Governador Camilo. Vale a pena assumir tamanha dívida? Isso depende muito dos resultados operacionais que serão obtidos nesses primeiros meses de gestão da CEA. A resposta que o governador aguarda, acredito, seja essa. Se a empresa for viável economicamente, como suponho ser, acho que essa é uma hipótese a ser considerada SIM. Faríamos um esforço coletivo, de pagar pelos erros de administrações passadas mas continuaríamos dando as cartas na estatal.

5) Qual as vantagens e desvantagens de federalizar?

De imediato perderíamos a “soberania” sobre os rumos da empresa que detém o monopólio da distribuição de energia elétrica no Estado. Teríamos aumento considerável das tarifas, que estão represadas em quase 50% pela Aneel.

Porém seriamos geridos por uma estatal federal (Eletrobrás) com obvias vantagens no sentido de bancar os investimentos tão necessários para melhorar, adequar e modernizar a infraestrutura da empresa. Algo em torno de R$ 50 milhões no curtíssimo prazo e mais de R$ 300 milhões no médio prazo. A qualidade dos serviços prestados, provavelmente, seria melhor e não correríamos o risco de pagar, nunca mais, pela má gestão e uso político da empresa. A dívida que assumiríamos seria menor também.

A decisão de privatizar cai num discurso ideológico que torna inviável essa opção.

Porém devemos ter em mente que os rumos da CEA de manter a concessão, federalizar ou privatizar cabe ao Ministério de Minas e Energia e à Aneel, restando a nós entrar na mesa de negociação e tentar sair de lá com a saída que traga menor prejuízo aos amapaenses. Acho correta a atitude do Governo Camilo de endurecer e não desistir de discutir os rumos da companhia.

Mas pra não ficar em cima do muro, vai ai minha opinião: Federalizar porém continuar com participação acionária minoritária na empresa.

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(*) Jean Alex Nunes é Administrador.

ARTIGO DE SEXTA-FEIRA (18/02/11)

                               
                   A ARTE DE LAMBER TAPETES

                                  Bonfim Salgado

     Entender a política no Brasil, quem há de? Menos de 48 horas após a monumental presepada que foi a votação do novo salário mínimo – na Câmara dos Deputados – os jornais e colunistas já anunciavam o óbvio: os distintos do PMDB, pela sua invulgar fidelidade ao governo, devem ser agraciados com vários cargos na Caixa Econômica Federal e outras satrapias rendosas da República.
     Ora, considerando o número de novos empresários e de gente ligada ao patronato que, por via das eleições, adentrou o Congresso Nacional, não admira nada que projetos iguais ao do salário mínimo, num passe de mágica, sejam esvaziados e jogados no lixo. O que vale em Brasília, nessa era Dilma Rousseff, é o famoso “é dando que se recebe”, frase de cabeceira das tropas de choque da Câmara e do Senado. Políticos caras de pau, parlapatões inúteis, sanguessugas do erário, autênticos traidores desse povo desinformado que teima em reelege-los. Para depois sofrer, sadicamente, a cada fim de mês de dinheiro curto, dívidas, fome, pobreza e miséria, Brasil a fora.
     Se assim não fosse, como se entenderia que a base aliada do governo, em manobra solerte e altamente interesseira, aprove um projeto que retira do Congresso a prerrogativa da discussão sobre o salário mínimo? Pior ainda, como justificar que S. Exas., numa ação política das mais vergonhosas – verdadeira sessão lambe-tapetes do Planalto  – jogue para 2015  esse direito? Colocando no colo do Executivo – de olho nos cargos e em prebendas abiscoitadas na calada da noite - a faca e o queijo sobre a determinação do valor do salário mínimo. Por que moral e ética política, se é mais fácil e rendoso lavar as mãos, como Pilatos? Essa é a questão.
      Enquanto a maciça propaganda oficial apregoa que o país possui reservas internacionais em moeda forte – algo na ordem de US$ 300 bilhões – centra-se o debate político sobre utopias e mentiras. Para fazer crer que um salário mínimo acima dos R$ 545 aprovados, a curto prazo, iria falir o Brasil. Com efeito, madame Dilma aprendeu rápido as lições de despistamento da verdade e demagogias de palanque, absorvidas na faculdade Lula da Silva. Podem ter certeza, que ainda voltaremos ao assunto.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

CRONIQUETA

             Texto que vocês podem apreciar também no Blog do Elton Tavares

                     
                        CRONIQUETA


                        Bonfim Salgado



                    AS COBRANÇAS



                 Hoje, apesar do aguaceiro que se abateu sobre a cidade, deixando tudo cinzento e problemático, tive oportunidade de avaliar – outra vez – a natureza humana. Ocorre que, devido a essa vida moderna, terminamos viciados em Internet. Além do que, oh, meu Deus!, passamos a colocar nacos de carne e verduras na boca, sem tirar os olhos do computador, onde desfilam aquelas tirinhas, quantas vezes chatérrimas, do Twitter.

                 Ora, não sou nada diferente de ninguém. Tenho amigos que acordam, tomam café, almoçam, merendam e jantam com Twitter. É a moda. Todo mundo quer estar lá, nem que seja para chamar nome feio para quem não conhece. Fazer o quê? Reclamar a quem?

                  Por isso, não deixei de notar alguém cobrando mais empenho e ações dos grupos da sociedade civil organizada. O propósito? Não deixar no esquecimento aquela tal “Operação Mãos Limpas”, varredura que a Polícia Federal andou fazendo por aí, alguns meses atrás. Sim, é fácil cobrar dos outros aquilo que não temos a mínima coragem de fazer.

                   Assim, quem sujou as mãos foram governantes e políticos. O Zé-povinho, boquiaberto e sem acreditar aquelas imagens na TV., vingou-se nas urnas e elegeu um governador considerado de oposição. Os dias passaram e, agora, a cobrança é para ver que fórmula irão inventar, a fim de devolver ao Estado do Amapá e aos amapaenses a dignidade perdida. Eu, pelo menos, estou esperando sentado.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ARTIGO DE HOJE, TERÇA-FEIRA

                        
SARNEY E RANDOLFE

                     Eliane Cantanhede


José Sarney, 80 anos de idade, 56 de Parlamento, é do Maranhão, mas é do PMDB do Amapá. É o mais longevo senador da República.

Randolfe Rodrigues, 38, primeiro mandato, acaba de ser eleito pelo PSOL do mesmo Amapá que elege Sarney. É o mais jovem senador da República.

A vitória de Sarney para seu quarto mandato como presidente do Senado era já considerada líquida e certa, inclusive repetindo o mesmo ritual de sempre: enfáticas negativas durante meses, aquiescência às vésperas, votação tranquila. Mas houve uma novidade, sim, da eleição de terça-feira, primeiro de fevereiro de 2011.

Essa novidade se chama Randolfe, que se lançou candidato ao Senado em cima da hora, pegou o microfone na sessão exigindo o direito à palavra, ocupou o microfone com uma voz peculiar, mas firme e sem tropeços, e fez um discurso muito político e elegante. Não acusou nem meteu o dedo na cara do decano, mas lembrou a necessidade de renovação e de ética na política.

No final, Sarney foi igualmente político e elegante, trocando um abraço de companheiro com o jovem e audacioso adversário – no Amapá e em Brasília.

Sarney teve 70 votos, Randolfe ficou com 8 e houve duas abstenções e um nulo. Eleito, o velho oligarca fez um discurso emocionado, com voz embargada, em que chegou a chorar. Lembrou seu início na Banda de Música da UDN, a guerra contra Getúlio e Juscelino, o esforço pela redemocratização em 1985 e a legalização dos partidos clandestinos no seu governo-que-o-destino-quis (1985-1989/1990).

Só não deu uma palavra sobre o ‘seu’ Maranhão, onde ele e sua família mandam há 5 décadas e que ostenta os mais vergonhosos índices do país, seja no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), seja no aprendizado de matemática e de português (e Sarney é imortal da Academia Brasileira de Letras!).

Enquanto Sarney era confrontado por Randolfe, sua filha, Roseana Sarney, sofria sua primeira derrota no governo do Maranhão: o pai foi eleito presidente do Senado, mas a filha não conseguiu eleger seu candidato à presidência da Assembleia Legislativa do Estado. Foi derrotada justamente por um deputado do seu próprio partido, Arnaldo Melo, do PMDB.

Sarney discursou no Senado em tom de despedida e dizendo que assume a presidência como “um sacrifício”. Randolfe falou em tom de futuro, de esperança. Espera-se que, daqui a 50 anos, o Amapá não seja o que o Maranhão é hoje.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SINAL VERMELHO PARA IMIGRANTES

                          

Ignacio Ramonet e a xenofobia européia

Reproduzo artigo de Ignacio Ramonet, publicado no sítio Outras Palavras:

Não é surpresa. Organizado por demanda do principal partido do país, a União Democrática de Centro (que já havia conseguido, em 2009, proibir a construção de minaretes), um plebiscito legalizou (por 53% dos votos) a expulsão (ao final da pena) de todos estrangeiros condenado por crimes “graves” (tais como, homicídio, estupro e assalto), mas também proxenetismo e trafico de drogas. Também terá de deixar o país quem simplesmente tiver “recebido abusivamente os benefícios sociais ou não pagar pensão alimentícia”.

                    É uma nova vitória para a extrema direita na Europa. Pode alimentar tentações semelhantes em outros partidos de ideologias semelhantes. Trará inevitavelmente certas consequências para a União Europeia, à qual a Suíça não pertence, mas com a qual Berna assinou, em 2002, um acordo sobre a livre circulação de pessoas. O que farão os governantes europeus quando a Suíça promover as expulsões, que são claramente dupla pena?

                  No fundo, a medida traduz, sobretudo, uma crescente inquietude com os imigrantes, acusados de serem a raiz de todos os problemas. É evidente que todas as sociedades têm o direito de definir o que aceitam ou não em seu espaço público. E não seria o caso de o país acolhedor modificar suas praticas em função dos novos habitantes. São estes que devem fazer um esforço de adaptação. Mas a partir destas evidências consensuais, os novos partidos da extrema direita constroem um discurso islamofóbico, expandindo seus círculos de influência e, pouco a pouco, fazendo passar todas as suas propostas extremistas.

                  Em nome de uma imperativa e abstrata “modernização”, as sociedades europeias são submetidas, há alguns anos, aos terremotos e traumas de uma grande violência. A lógica da competitividade foi elevada ao nível de imperativo categórico. A mundialização econômica, o crescimento da União Europeia, o fim da soberania nacional, a criação do euro, a quebra das fronteiras, a chegada massiva de imigrantes, o multiculturalismo e o desmantelamento do Estado de bem-estar social provocaram, entre muitos europeus, uma perda de referência e identidade. Além disso, tudo foi produzido em um contexto de grave crise financeira, econômica e social, provocando insuportáveis estragos sociais (25 milhões de desempregados, 85 milhões de pobres) e um aumento de todos os tipos de violência.

                 Diante da brutalidade e a rapidez de tantas mudanças, para muitos cidadãos as incertezas acumulam-se, a névoa cobre o horizonte, o mundo parece opaco e a história parece fugir de qualquer decisão. Muitos europeus sentem-se abandonados pelos governantes (de direita ou esquerda), que a mídia, aliás, não cessa de atacar como empresários fraudulentos, mentirosos e corruptos. Perplexos no centro desse furacão, muitos frustram-se e se agarram ao sentimento de que, como dizia Tocqueville, “o passado já não ilumina mais o futuro, o espirito caminha pelas trevas…".

                Sobre tal terreno social – feito de medos, ameaças de desemprego, distúrbios e ressentimentos – reaparecem os velhos mágicos. Com base em argumentos demagógicos, projetam sobre o estrangeiro, o muçulmano, o judeu ou o negro, toda a causa da nova desordem e da sensação de insegurança. Os imigrantes são os alvos mais fáceis, por simbolizarem o transtorno social e representarem, ao olhos do europeu mais modesto, uma concorrência indesejável no mercado de trabalho.

               A extrema direita sempre pretendeu tratar as crises designando um único culpado: o estrangeiro. É desolador constatar que essa atitude é hoje encorajada pelas contorções dos partidos democráticos, reduzidos a se interrogar sobre que dose de xenofobia seu discurso poderá incorporar.

               Na França, a Front National (FN), de Jean-Marie Le Pen, propôs há algum tempo o culto do sangue e do solo, a restauração da nação (no sentido étnico do termo), o estabelecimento de um regime autoritário para lutar contra a insegurança, o retorno de uma protecionismo econômico não solidário, a volta das mulheres ao lar e a expulsão de três milhões de estrangeiros para liberar os postos de trabalho destinado aos franceses “de fibra”. Apesar de venenoso, esse discurso seduz, há algum tempo, “mais de um quarto dos franceses”.

               E para atrair eleitores, o presidente Nicolas Sarkozy lançou, em julho, uma campanha contra os ciganos. O direito europeu impede a expulsão dos cidadãos dos países do bloco. Mesmo assim, o governo francês não hesitou em conduzir até a fronteira, nas duas primeiras semanas de outubro de 2010, 8.601 ciganos romenos: 7.447 “de maneira voluntaria”; 1.154, a força. Alega-se que os acordos da União Européia com a Romênia e a Bulgária, que sacramentaram a adesão desses dois países em 2007, prevêem uma carência de sete anos antes de autorizar a livre circulação de pessoas e que esse prazo não expirou1. É verdade, conforme o direito europeu em vigor. Porém esse mesmo prazo aplica-se, por exemplo, aos húngaros, tchecos e poloneses, que não foram expulsos maciçamente da França… Além disso, Paris alega que cada cigano aceitou sua partida de “maneira voluntaria”, por uma soma de 300 euros… Um “voluntariado” pouco crível. O desmantelamento de acampamentos ciganos não os deixa com outra possibilidade, senão aceitar a “ajuda” de retorno.

                    A Itália de Silvio Berlusconi procede da mesma maneira. Os acampamentos são regularmente evacuados. Em Milão, por exemplo, o numero de ciganos foi reduzido de dez mil a 1,2 mil… Outros países da União Europeia agem de forma mais discreta. Na Dinamarca, o prefeito de Copenhagen, Frank Jensen (social-democrata), queixou-se do numero de ciganos “envolvidos em assaltos”. Consequência: o governo deportou dez ciganos no começo de setembro, depois de já ter expulso vinte em julho. A Suécia, Áustria e Bélgica agem da mesma forma, mas concentram seus esforços sobretudo sobre os ciganos da Servia, de Kosovo e Macedônia – Estados não membros da União Europeia. Por seu lado, a Alemanha assinou um acordo para deportar cerca de 12 mil ciganos que haviam fugido de seu país no decorrer da guerra de Kosovo. Também a Suíça estabeleceu igualmente um “acordo de retorno” com as autoridades de Kosovo. Na Hungria e em Eslovênia, os ciganos foram recentemente vitimas de ataques mortais…

                   Essas práticas xenofóbicas são condenadas pelas instâncias internacionais. A Corte Europeia dos Direitos Humanos considera que, pelas suas atitudes contra os ciganos, dois membros da União Europeia (a República Tcheca e a Grécia), violaram direitos humanos. O Comitê da ONU que administra a Convenção Internacional contra todas Formas de Discriminação Racial (CERD), assinala que expulsões forçadas e discriminatórias de ciganos também ocorre na Bulgária, República Tcheca, Grécia, Lituânia e Romênia.

                  Tais praticas não são necessariamente impopulares. Na França, por exemplo, uma pesquisa indica que 55% dos católicos apoiam as expulsões dos ciganos. Um número cada vez maior de europeus pensa que a integração (em particular dos muçulmanos) é um fracasso, que o discurso sobre “o enriquecimento cultural pela diversidade” não prospera e que seria necessário, portanto, “parar de acolher tantos estrangeiros” (Le Monde, 27 novembro 2010).

                  A nova xenofobia europeia é expressa de forma tão aberta que diversos de governantes de centro-direita são hoje apoiado por partidos xenofóbicos e nacionalistas. Na Itália, Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca os governantes expressam ou uma coalizão com a extrema direita, ou uma aliança minoritária que sobrevive graças a seu consentimento.

                 Na Dinamarca, por exemplo, onde teve lugar, em 2006, a “crise das caricaturas de Maomé”, o primeiro-ministro liberal Anders Fogh Rasmussen é aliado, desde 2001, ao Partido do Povo Dinamarquês (PPD, extrema direita) dirigido por Pia Kjaersgaard que construiu sua popularidade numa campanha anti-imigratória, anti-muçulmana em particular. Na Suécia, os Democratas da Suécia (SD, extrema direita) entraram no Parlamento em setembro, ocupando vinte assentos. Seu programa é abertamente “xenofóbico e populista”. Um de seus anúncios na campanha eleitoral – que o Canal TV4 recusou-se a difundir – mostrava um velha senhora sueca andando apoiada sobre um andador. Mulheres com burcas, passavam à sua frente e chegavam antes dela no balcão, para alcançar os benefícios sociais…

                    Na Áustria, no período das eleições regionais e municipais de outubro, o partido FPÖ (extrema direita), dirigido por Heinz-Christian Strache, progrediu para 27% (14,83% em 2005). Na Holanda, os deputados democrata-cristãos e liberais validaram, por unanimidade, em 5 de outubro, um acordo governamental com o PVV (Partido da liberdade), islamofóbico, de Geert Wilders, que controla vinte assentos no Parlamento. Em troca de seu apoio, o PVV obteve concessões para tratar os assuntos de imigração. A lei que proíbe o uso da burca será votada nos próximos meses.

                    Na Itália, a nova lei de segurança, promulgada pelo primeiro-ministro Sílvio Berlusconi, permite a formação das “patrulhas cidadãs”, controladas pela extrema direita. Já são mais de duas mil. Constituem-se de voluntários, pertencentes à Liga do Norte, de Umberto Bossi, ou ao Movimento Social Italiano – Direita Nacional (MSI-DN). Os militantes usam vestimentas paramilitares: camisa cáqui, calças cinzas e bonés pretos com logo da águia imperial romana… Seu objetivo declarado é: “Salvar a integridade nacional” e “limpar” as cidades e vilarejos de “imigrantes indesejáveis”.

                   Muitos países europeus decidiram limitar as “práticas culturais” dos muçulmanos. França e Bélgica, por exemplo, votaram leis contra o uso do véu, burca ou niqab. Esses países proíbem agora qualquer rosto “mascarado ou dissimulado, em parte ou por inteiro, nos meios públicos”. Mesmo que as estratégias divirjam, essa questão influencia igualmente outros Estados europeus. Na Dinamarca, o uso do véu por inteiro é, desde 2010, limitado em espaços públicos. Na Holanda, há vários projetos para proibi-los, especialmente na esfera educacional e pública. Barcelona, a segunda cidade da Espanha, está preste de proibir a burca e o niqab em edifícios municipais, como já foi decidido em algumas cidades da Catalunha.

                    Na Alemanha, sob a pressão de seu partido, CDU (democrata-cristão), que exige uma atitude mais dura sobre a imigração, principalmente contra os muçulmanos, a chanceler Angela Merkel afirmou, em 17 de outubro, que “o conceito de sociedade multicultural alemã fracassou”. Merkel lançou uma advertência aos imigrantes: “Aquele que não aprender imediatamente o alemão, não é benvindo”. Suas declarações são reforçadas pelo presidente do lander de Hesse, Volker Bouffer, barão da CDU: “O Islã não pertence à república”. O presidente do grupo parlamentar da CDU, Volker Kauder, declarou também: “O islamismo não responde às exigências de nossa Constituição, fundada sobre nossa tradição judaico-cristã”. Mais de um terço dos alemães estimam que seu país estaria melhor sem os muçulmanos, 55% declaram ver os muçulmanos como pessoas “desagradáveis” e 58% estimam que “seja preciso proibir as praticas de sua religião”.

                    Em toda União Europeia, em 2010, avançaram muito as posições extremistas, inclusive “antidemocratas e racistas”, bem como a aceitação do darwinismo social. O “potencial antidemocrático” da sociedade pode ser medido agora, na Europa, pelo termômetro da islamofobia.

                    Segundo um estudo conduzido pela Fundação Friedrich Ebert, e publicado em 13 de outubro, a atual crise econômica “deslocou para direita o espaço politico” europeu e põem concepções extremistas no centro do discurso eleitoral. A xenofobia expressa-se agora de maneira desinibida. Tudo faz temer que – como nos EUA com o populismo do Tea Party – as ideias politicas radicalizem-se à direita. E terminem por ameaçar a democracia.

                   1- A livre circulação de trabalhadores dá a todo cidadão da União Europeia (UE) o direito de trabalhar e viver em qualquer país do bloco. Esta liberdade fundamental, instituída pelo artigo 39º do tratado CE, permite:

• Buscar trabalho em outro país;
• Lá trabalhar sem precisar de uma licença de trabalho;
• Lá viver com este objetivo;
• Lá permanecer mesmo terminar o trabalho;
• Beneficiar-se do mesmo tratamento dispensado aos cidadãos desse país no que concerne ao acesso ao emprego, às condições de trabalho, e a quaisquer outras vantagens sociais ou fiscais capazes de facilitar a integração no pais de acolhimento

                   Os cidadãos búlgaros, tchecos, estões, lituanos, húngaros, poloneses, romenos, eslovenos e eslovacos podem encontrar algumas restrições para trabalhar em outros países. No entanto, essas restrições não devem exceder um período de sete anos a partir da adesão destes países à UE (Bulgária e Romênia entraram em 1º de janeiro de 2007, todos os demais em 1º de maio de 2004).

* Tradução de Cauê Seigne Ameni.

ARTIGO ENTREVISTA DE HOJE NO TWITTER

       
        (O material foi transcrito sem nenhuma alteração)
        
  
POBREZA, FOME e PRECONCEITO
                    Hiago Silva
                    (do Twitter)
Oi galera, a segunda matéria do blog é bem constragedora.. Você que tá lendo essa matéria, deve está em casa agora, sentado na frente do computador. Você acorda de manhã vai ao colégio, chega, almoça, dormi, merenda, vai pra internet e depois sai com os amigos. Pois é, enquanto você tá ai na sua casa tem gente que nem casa tem, tem gente que mora em barracos, tem gente que passa fome, tem gente que não tem escola pra estudar, tem gente que não tem amigos, tem gente que não tem uma cama pra dormi... Pô galera, vamos refletir né, eu era assim, não me passava na cabeça que enquanto eu dormia na minha cama quente, tinha gente que tinha que dormi no frio do chão.. não passava na minha cabeça que enquanto eu estava almoçando ou merendando tinha gente que não tinha nem o que almoçar e muito menos o que merendar! Eu conheçi uma menina que mora em um barraco, eu conversei com ela, e poxa galera, a historia de vida dela é muito sofrida pra quem só tem 14 anos! O nome dela é Amélia, mora em um barraco, ela os pais e mais 4 irmãos.

Blogspace: Amélia, conta um pouco da vida de vocês, dos seus pais e dos seus irmãos.
Eu sou a mais velha, tenho 14 anos, minha mãe se chama Lucineide e meu pai se chama João, ao todo são 5, eu, Ana (1 ano), Junior (7 anos), Mauricio (9anos), Maria (12 anos), minha mãe não tem condições de pagar escola pra gente, e mesmo que ela podesse meu pai não quer que a gente estude, ele diz que a gente tem que ajudar ele a catar papelão, minha irmã Ana fica com minha mãe nas ruas, minha mãe usa ela pra pedir esmola, o Junior e o Mauricio ficam com meu pai, catando, eu e minha irmã Maria ficamos pedindo moeda nos transitos pra tentar levar alguma coisa pra casa, tem dias que a gente não tem o que comer, a gente só toma banho quando chove, a gente dorme em papelões... É muito triste!

Blogspace: Desde quando você nasceu que seus pais moravam na rua?
Sim, minha mãe já pensou até em ser garota de programa pra tentar dá alimento pra gente.

Blogspace: Você pretende estudar? Ter um futuro melhor?
Sim, mas meu pai não deixa, ele quer que eu e minha irmã fique no sinal, atrás de dinheiro e alimento. Eu queria muito ter um futuro melhor, ter uma vida melhor, dá uma vida digna pra minha familia, mais eu acho que isso nunca vai acontecer.

Blogspace: Seus pais tratam vocês bem?
Minha mãe nos dá muito carinho, mas meu pai é usuario de drogas, o dinheiro que ele ganha é uma pouca parte pra gente e o resto pra drogas. Meu pai bate na minha mãe quando a gente não tá em casa!

Blogspace: E o que você diz pra pessoas que tem condições boas de vida?
Que eles tenham valor e amor por tudo que eles tem, porque tem gente no mundo que não tem nada. E que eles ajudem as pessoas pobres.

Blogspace: E o preconceito que vocês sofrem?
É muito chato né, as pessoas olham torto pra você, ficam lhe chamando de favelado, pobre sujo, imundo, insento, é realmente muito triste, um dia na eu passei correndo mais o meu irmão em frente a uma loja, o senhor que estava na calçada gritou: "peguem esses ladrõezinhos, antes que eles roubem uma pessoa" a gente estava só brincando, é tudo muito dificil!


Caramba né gente, a Amélia chorou na entrevista, é muito chato você querer fazer e não ter estrutura. Reflitam muito depois dessa matéria, boa tarde e boa segunda-feira a vocês. (O que é bem ironico dizer isso da segunda-feira). Abraços galera